Ivan Dias Marques | Redação CORREIO | Fotos: Robson Mendes e Divulgação
Já são 67 anos de vida, sendo quase meio século dedicado à música. Como qualquer profissional bem-sucedido, Gilberto Gil chegou ao tempo de, naturalmente, deixar o trabalho um pouco de lado, ficar próximo à família e ver sua prole crescer. Ainda assim, sempre há tempo para relembrar canções da rica carreira.
Dia 15, ele apresenta o show Bandadois, que virou CD e DVD, no TCA, ao lado do filho Bem Gil e de Jaques Morelenbaum, num clima que representa o seu estado atual. Em sua casa no Horto Florestal, ele recebeu o CORREIO para um divertido papo, antes de ir ao cinema com dois netos.
Mesmo após largar o Ministério, Gil não retomou completamente a carreira musicalQue filme você vai ver com seus netos?
Avatar. Já vi uma vez e vou levar eles. Gostei muito.O visual não parece uma coisa fantasiosa, mentirosa, parece tudo real.
Esse momento familiar reflete seu clima atual, até pelo DVD, algo bem familiar com seus filhos?
Não é que seja um momento familiar. É que tendencialmente, no seu modo de vida, com o envelhecimento e o surgimento da prole, dos filhos, dos netos,você vai naturalmente tendo que procurar espaço na sua vida para essa nova ocupação. Eles fazem parte disso, tenho que me ocupar com eles, é natural.
Você foi durante muito tempo um músico ligado intimamente à sua carreira, depois à política, e talvez tenha chegado a hora de ficar mais próximo da família. É isso?
É natural. Com o envelhecimento, você vai naturalmente arquivando certos hábitos e certas práticas associadas à juventude, associadas a um tempo de abundância energética, e são esses aspectos humanos que vão ditando novos termos da vida, e vão dizendo ‘olha, agora você precisa descansar mais, ter maislazer,precisa termaislaços domésticos, ficar mais em casa’. Eu recusei muito trabalho para poder ficar em casa, ficar com eles, conhecê-los, vê-los crescer. Os dois gêmeos, por exemplo, filhos da Marília, eram completamente distantes de mim. Primeiro pela própria dificuldade da infância. Depois também pelo meu próprio afastamento, mais distante. Eles agora estão com 8 anos, então é diferente. Eles começaram a namorar a vida adulta, começam a compartilhar da compreensão adultadas coisas, do mundo, o que também os aproxima muito mais de mim e me aproxima muito mais deles e que faz com que exista uma necessidade muito maior deles. A gente pode traduzir isso num momento mais família? É, mas não é. É um momento natural (risos).
E essa nova postura coincidiu coma saída sua do Ministério da Cultura, onde você não se dedicava à música como antes? A família agora meio que ocupou o espaço que era da política?
É, quando já se especulava a minha saída do Ministério, primeiro depois do quarto ano de governo, depois no quinto, na reeleição e, logo depois, as pessoas perguntavam ‘você quer deixar o Ministério para voltar completamente à música?’ e eu dizia que não. Eu não vou voltar à música na mesma intensidade, no mesmo tom, na mesma correria que eu tinha antes. Porque eu não quero mais, não suporto mais,etc. Naturalmente a vida foi me dando alternativas de foco, miragem, então para onde eu vou olhar? É para casa, evidentemente, pro lazer, pros filhos, a família, pra minha mãe... tudo isso.
Gilberto Gil e os filhos José e Bem na gravação do DVD ‘Bandadois’Com esse afastamento da composição, por conta do Ministério, na sua volta você sentiu alguma espécie de enferrujamento na criação musical?
Não, não senti não. Não senti porque eu vinha já na fase final ministerial com a feitura do disco Banda larga cordel, que eu exercitei um pouco. Eu comecei a compor, eu fiz a canção Banda larga, fiz Despedida de solteira, Não tenho medo da morte, Os pais e Outros riam, com Jorge Mautner. Fui fazendo uma série de canções ali no final do quarto ano do governo, que foram me propiciando uma reentrada no mundo da composição. O violão eu nunca havia deixado de tocar. Eu cantava, eu fazia show, eu mantive minhas turnês no exterior. Quando saí do governo, retomei tranquilamente a composição, então não me senti enferrujado.
Foi você quem ensinou seus filhos a tocar?
Não, eles aprenderam por eles mesmos. O professor do Bem foi o Cézar Mendes. O José é autodidata. Aprendeu em casa, tocando com o computador, vendo vídeos.
E eles te pedem dicas?
Bem sim, e é essa uma das razões que facilitaram a aproximação dele como meu trabalho profissional e de estar tocando comigo. O fato de sempre se interessar na minha música, ser muito antenado, me dar toques, me relembrar coisas, dizendo ‘ô pai, aquela música assim assim, aquela introdução que você fazia naquela música, como é, você nunca mais fez, não quer fazer de novo...’. E, nesse sentido, tem uma parte do trabalho dele que é conectada no meu. E isso foi fundamental para que eu me sentisse atraído pela musicalidade dele, pelo ponto de vista que ele dá ao meu trabalho e que se efetivou. Ele é das duas bandas. Da banda elétrica e da banda acústica, a bandadois.
E esse Carnaval, o que você está pensando em fazer?
Eu? Eu pensoemestar lá no Carnaval das formas costumeiras e agradáveis de sempre. Gandhy, passeio com o Chiclete...
E o Expresso?
O Expresso não. O Expresso foi pra 2222. Lá naquela encarnação, eu voltarei (risos).
Você assistiu ao filme sobre Lula?
Não, ainda não. Vou aproveitar a semana que vem pra ver. Não, talvez dê no final de semana.Quem sabe no sábado ou domingo, eu vá. Tudo que eu ouço do filme é muito abonador. Que é um filme muito bem feito.
Entrando na política, como é que você está vendo o governo Lula, agora que está fora dele?
Eu tenho uma frase do presidente que eu ainda não entendi direito o que ele quer dizer. Ele disse que no último ano do governo dele, ele não vai tomar ‘café frio’. O presidente gosta dessas metáforas. Eu acho que ele quis dizer que quer ação, quer continuar atuante, vivo, quente. Com um governo positivo, como tem sido até agora.
Como você analisa agora a sua gestão no Ministério da Cultura?
Eu coloco minha gestão no Ministério dentro do conjunto da avaliação do governo Lula. Bem avaliado, então meu ministério também.
Está surgindo um burburinho de uma possível aliança entre Marina Silva (PV) e José Serra (PSDB). Como você vê isso?
Nunca ouvi falar disso. Eu tô com Marina, vou votar nela no primeiro turno. Estive no lançamento da pré-candidatura dela.
E quais seus planos agora, você faz planos pessoais?
Ah, sim, claro. Primeiro, tem uma coisa inercial na vida de todo profissional hoje em dia: de que seu futuro é necessariamente planejado. Todo mundo trabalha com a perspectiva mínima de um ano. Meu escritório agora está trabalhando na turnê de julho, de agosto na Europa, no São João aqui antes. Já tenho coisas marcadas para setembro, outubro do ano que vem, já tenho uma excursão pra Ásia, pro Pacífico, pra China, Austrália, Cingapura, etc. Então não tem como você fugir desse lado comprometido de um futuro que não é futuro, é presente, já é trabalhado agora. Esse é um lado.O outro lado, onde as rédeas estão soltas, que eu deixo o cavalo andar sozinho. Isso também é um lado importante. É o não-planejado, o que aparece, o lazer, a solicitação da família, o prazer repentino de algo que virá. Planos ocultos, não tenho não (risos).
Este ano tem Copa do Mundo (NR: neste momento, Gil se empolga) e você adora futebol. Pensa em ir à África do Sul?
Não, não vou não porque eu quero que o Brasil ganhe.
Você é pé-frio (risos)?
Toda vez que eu vou à Copa, o Brasil perde. Fui na Itália em 90 e o Brasil perdeu. Fui na França em 98 e o Brasil perdeu. Fui na Alemanha em 2006 e o Brasil perdeu. Não vou à África porque quero que o Brasil ganhe (gargalhadas).
E o Bahia?
O Bahia vamos ver. Taí com Renato (Gaúcho, técnico). Ganhou o primeiro jogo na Copa São Paulo de Juniores, é um bom sinal. Está vivo e taí cuidando desta questão que é importante que é a renovação, as categorias de base. Precisa ajustar um pouco melhor a gestão, né?
Caetano quando passou um tempo aqui,e m 2009, foi em Pituaçu ver um jogo. Você gosta, pretende ir no estádio?
Não tenho ido ver o Bahia recentemente, mas quero ver. Se tiver oportunidade eu vou, não fui porque não tive como ir.Sou tricolor aqui, sou tricolor no Rio. O Fluminense me deu um prazer enorme neste final de ano, com uma arrancada heroica, muito bonita. Foram dois campeões esse ano: o Flamengo e o Fluminense (risos). O Fluminense fez um final de temporada de campeão. Fez uma arrancada lindíssima. Há oito rodadas do final, tava na lanterna. Aí arrancou, arrancou, ganhou os jogos importantíssimos e foi heroico, bonito. O Bahia tá precisando fazer uma coisa desse tipo.O tricolor da Bahia precisa estar à altura da sua história.

0 comentários:
Postar um comentário